
Estudo aponta os riscos de consumir alimentos ricos em emulsificantes regularmente (Foto: banco de imagens Canva)
Os especialistas aconselham que as pessoas deem mais atenção aos rótulos dos alimentos para evitar levar para casa produtos ricos em substâncias prejudiciais à saúde. Mas será que você está levando essa recomendação a sério?
Um estudo do projeto Nutrinet-Santé, realizado por pesquisadores ligados à universidade francesa Sorbonne e outras universidades, descobriu uma associação entre o consumo de emulsificantes - presentes em alimentos ultraprocessados - e diversos tipos de câncer.
As conclusões da pesquisa indicam que maior ingestão de mono e diglicerídeos de ácidos graxos foi associada a um aumento do câncer em geral, mas especialmente de mama e da próstata.
Estudo apontou aumento de 15% dos riscos de câncer
Os pesquisadores analisaram o consumo de diversos emulsificantes presentes em ultraprocessados e acompanharam mais de 90 mil pessoas ao longo de vários anos para observar o desenvolvimento de doenças.
Essas substâncias são comuns em alimentos como margarinas, sorvetes, refrigerantes, molhos industrializados e muitos outros.
O estudo identificou um aumento de 15% no risco de câncer em geral, 24% no de mama e 46% no de próstata entre os que mais consumiam emulsificantes.
Pesquisas sugerem que esses aditivos podem alterar a microbiota intestinal e causar inflamações, o que pode estar ligado a doenças intestinais e possivelmente ao câncer colorretal.
Alto consumo de emulsificantes foi associado ao maior risco de câncer
Os autores do estudo NutriNet-Santé concluíram que há evidências inéditas de uma associação entre o alto consumo de certos emulsificantes e maior risco de diversos tipos de câncer, destacando possíveis implicações para a regulamentação dos alimentos.
"Neste grande estudo prospectivo, detectamos um aumento na proporção de alimentos ultraprocessados na dieta associado a um aumento significativo superior a 10% nos riscos de câncer em geral e no de mama”, afirmou a coordenadora do estudo, Dra. Mathilde Touvier, ao Medical News Today.
Entenda como foi a metodologia do estudo NutriNet-Santé
Publicada no periódico PLOS Medicine, a pesquisa foi conduzida por cientistas do Centro de Pesquisa em Epidemiologia e Estatística da Universidade Sorbonne e da Universidade Paris Cité.
O projeto NutriNet-Santé, de financiamento público, analisou os dados de 92 mil adultos durante seis anos.
A metodologia envolveu questionários alimentares diários preenchidos pelos participantes. Com esses dados, os pesquisadores calcularam a ingestão de aditivos com base nas categorias da autoridade europeia de segurança alimentar.
Foram considerados apenas os casos de câncer diagnosticados a partir de dois anos após o início do acompanhamento, que se estendeu até outubro de 2021.
Ao longo do estudo, foram identificados pelo menos 60 tipos de emulsificantes consumidos regularmente pelos participantes, como:
- Fosfatos;
- Lactilatos;
- Ésteres de poliglicerol;
- Mono e diglicerídeos de ácidos graxos;
- Celuloses;
- Alginatos;
- Amidos modificados;
- Carrageninas.
Dados apontam que pessoas mais jovens tendem a ser mais impactadas
Os dados indicaram que indivíduos que consumiam mais aditivos eram, em geral, mais jovens, com maior escolaridade e praticavam mais atividade física.
Contudo, também ingeriam mais alimentos ultraprocessados, como bolos, biscoitos, refrigerantes e laticínios industrializados.
No total, foram registrados 2.604 casos de câncer, sendo os mais frequentes:
- Mama: 750 casos;
- Próstata: 322 casos;
- Colorretal: 162 casos;
- Pulmão: 124;
- Pele: 110;
- Linfomas: 90.
A ingestão de mono e diglicerídeos de ácidos graxos (E471) foi significativamente associada ao maior risco de câncer, especialmente de mama e próstata.
Esses emulsificantes, derivados de óleos vegetais ou gordura animal, são comuns em alimentos processados como pães, bolos, biscoitos, sorvetes, margarinas e cremes vegetais.
O consumo de carrageninas (E407 e E407a), presentes em leite UHT, leites vegetais, iogurtes e queijos, foi associado a um maior risco de câncer de mama.
Para o câncer colorretal, os dados não mostraram uma correlação estatisticamente significativa.
Embora o câncer envolva múltiplos fatores, inclusive genéticos, o estudo destaca os riscos da exposição frequente a aditivos não essenciais em alimentos industrializados.
Segundo o portal Medscape, essas substâncias também estão associadas à inflamação intestinal e à alteração da microbiota, podendo favorecer outras doenças do sistema digestivo.
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