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O glúten pode não ser o vilão do trigo: entenda evidências controversas

Estudos apontam - mas não concluem - que o glúten pode não ser o problema na síndrome do intestino irritável (SII)

O glúten pode não ser o vilão do trigo: entenda evidências controversas

Muitos pacientes que apresentam sintomas da SII desenvolvem o "efeito nocebo" (Foto: Shutterstock; detalhe: Freepik)

O glúten pode não ser o problema na síndrome do intestino irritável (SII). Para muitas pessoas, o trigo ou o glúten causam algum tipo de reação, seja porque uma parcela tem alergia ao trigo ou porque tem a doença celíaca autoimune.

No entanto, segundo o ScienceAlert (site de notícias e artigos sobre pesquisas científicas), a maioria delas descobre que tem algum tipo de intolerância ou sensibilidade ao trigo e ao glúten.

O diagnóstico não costuma ser tão simples porque ainda não há biomarcadores confiáveis para confirmar a sensibilidade ao glúten ou ao trigo. Normalmente, os médicos se baseiam nos relatos dos seus pacientes.

Muitos pacientes com SII acreditam que alimentos específicos, como glúten ou trigo, desencadeiam seus sintomas e por isso costumam excluir esses alimentos de suas dietas sem uma consulta prévia com um médico ou nutricionista.

Essa prática pode estimular o desenvolvimento de alguns problemas, o chamado "efeito nocebo". Entenda o que isso significa.

O que é o efeito nocebo e qual a relação com o trigo e o glúten

Cerca de um terço dos pacientes com SII desenvolvem hábitos alimentares desordenados e percepções sobre os alimentos que podem causar sintomas como a ortorexia, por exemplo, uma preocupação excessiva com uma alimentação saudável.

Desta forma, essas pessoas acabam desenvolvendo o "efeito nocebo", em que os pacientes apresentam sintomas devido às suas expectativas sobre uma substância que supõem estar causando problemas, porém, é inerte (um "nocebo").

Caroline Seiler, pesquisadora de nutrição no Farncombe Institute da McMaster University, integra uma equipe que realizou um ensaio clínico para descobrir se o trigo, o glúten ou um nocebo sem glúten causavam sintomas na SII.

Os resultados surpreenderam, já que alguns pacientes, embora tenham apresentado sintomas piores com o glúten ou o trigo, não tiveram resultados muito diferentes do nocebo.

Pesquisas controversas: estudos se dividem sobre efeitos do glúten em casos de SII

Os resultados desse estudos são semelhantes aos de outros já publicados. De acordo com a pesquisadora, identificar as verdadeiras sensibilidades dos pacientes com SII é uma área de pesquisa controversa. Isso porque alguns estudos concluem que evitar o glúten é benéfico, enquanto outros não apontam efeito significativo.

Em um estudo inovador realizado por pesquisadores do Reino Unido e da Holanda, publicado na revista médica Lancet, os pacientes com sensibilidade ao glúten relatada foram divididos em quatro grupos:

  • Dois grupos receberam pão sem glúten: um desses grupos foi informado de que continha glúten e outro foi informado de que não continha;

  • Dois outros grupos receberam pão com glúten: um grupo acreditava que não continha glúten e o outro acreditava que continha.

Os resultados mostraram que os pacientes que ingeriram glúten e que também foram informados de que estavam ingerindo glúten apresentaram sintomas significativamente piores do que os demais grupos.

Por que o glúten é considerado o vilão da dieta?

Devido às evidências controversas de que o glúten e outros componentes do trigo, como carboidratos fermentáveis ou proteínas imunoestimulantes, podem estimular os sintomas da SII, é possível que alguns exageros na disseminação dos resultados de pesquisas contribua para a desinformação nutricional.

Como resultado, os pacientes com SII muitas vezes recorrem a pequisas na internet conflitantes para testar novas dietas e tratar seus sintomas.

A psicologia tem um papel importante no tratamento da SII

A Síndrome do Intestino Irritável (SII) tem sido vista como um distúrbio da interação intestino-cérebro, e os tratamentos psicológicos estão sendo cada vez mais estudados para reduzir o medo dos alimentos e os efeitos nocebo, além de tratar os sintomas da doença.

Um estudo recente de Harvard mostrou que a terapia cognitivo-comportamental (TCC) baseada em exposição, aplicada em cinco sessões com uma enfermeira, pode melhorar os sintomas da SII.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) foi associada a mudanças nas redes cerebrais e no microbioma intestinal, contribuindo para a melhora dos sintomas gastrointestinais.

Devido à complexidade da SII, o tratamento psicológico deve ser parte de um plano mais amplo, incluindo cuidados com a dieta, que, apesar de essencial para a saúde, é complicada pelos aspectos emocionais da alimentação e pelas necessidades nutricionais dos pacientes.

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