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O que acontece com o seu cérebro se você beber mais de 8 drinques alcoólicos por semana?
Clarice MunizPor  Clarice Muniz  | Redatora

Sou jornalista e assessora de imprensa especializada em conteúdos de saúde e bem-estar. Adepta da comida de verdade, costumo preparar as minhas refeições diariamente, seguindo as recomendações de cuidados e saúde de especialistas. Sou fã de pimenta. Se você não curte comida picante, não se arrisque em tirar uma provinha da minha panela.

Estudo revela os danos cerebrais causados pelo consumo de álcool, confirmando alerta da OMS sobre a ausência de uma quantidade segura

O que acontece com o seu cérebro se você beber mais de 8 drinques alcoólicos por semana?

Entenda os riscos do consumo considerado moderado e pesado para o cérebro (Fotos: Shuttersock)

Muitas vezes, beber álcool com frequência parece algo inofensivo. Seja para comemorar, relaxar depois de um dia cansativo, acompanhar o jantar com uma taça de vinho ou até aliviar a tristeza, o drink acaba sendo um companheiro em várias situações.

O que é considerado consumo "normal" de álcool, varia de pessoa para pessoa. No entanto, especialistas alertam que, mesmo em pequenas quantidades, a bebida pode causar danos, como mostra um estudo que associa o consumo de mais de oito doses por semana a lesões cerebrais e declínio cognitivo.

Se você tem o hábito de beber alguns drinks por semana, os resultados dessa pesquisa podem te surpreender.  

Esses grupos têm um risco maior de sofrer lesões no cérebro

Os dados foram publicados na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia. Foram analisadas amostras de 1.781 pessoas, com idade média de 75 anos no momento da morte.

Todas passaram por autópsias cerebrais, nas quais os pesquisadores examinaram o tecido cerebral em busca de lesões, além de medir o peso e a altura do cérebro.

Familiares dos participantes também foram entrevistados para relatar o padrão de consumo de álcool dos falecidos.

Os resultados mostraram que:

  • Bebedores moderados apresentaram um risco 60% maior de sofrer lesões vasculares no cérebro em comparação com quem não bebia 1/4;

  • Entre os que consumiam álcool em excesso, o risco foi ainda maior: 113% a mais.  

Como se chegou aos resultados sobre os efeitos do álcool no cérebro

Os participantes do estudo foram divididos em quatro grupos, com base em seus hábitos de consumo de álcool:

1. Nunca beberam;  

2. Bebedores moderados: consumiam até 7 bebidas alcoólicas por semana;  

3. Bebedores pesados: consumiam 8 ou mais bebidas por semana;  

4. Ex-bebedores pesados: haviam parado de beber três meses antes da morte  

Para fins de padronização, os pesquisadores definiram uma bebida como equivalente a 14 gramas de álcool. Isso corresponde às seguintes doses:

  • 350 ml de cerveja (pouco mais de um terço de uma lata);
  • 150 ml de vinho (uma taça);
  • 45 ml de destilado (como em uma dose de bebida mista).

Uma das patologias analisadas no estudo foi a arterioloesclerose hialina (lipo-hialinose), que é o espessamento das paredes das pequenas artérias do cérebro, dificultando o fluxo sanguíneo.

Entre os que nunca bebiam, 40% já apresentavam esse tipo de lesão vascular. No entanto, a prevalência da condição aumentava proporcionalmente ao consumo de álcool: quanto mais se bebia, maior era a chance de apresentar a lesão.

Quais foram os resultados encontrados durante o estudo

Os pesquisadores descobriram que a lipo-hialinose afetava 45% dos bebedores moderados e 50% dos ex-bebedores pesados.

Antes, essa condição era associada apenas a infartos lacunares, mas o estudo mostrou que ela pode se desenvolver mesmo sem esses eventos, segundo a neurologista Dolores Páramo, neurologista do Hospital Vithas, em Sevilha.

O estudo identificou que grandes bebedores e ex-grandes bebedores tinham, respectivamente, 41% e 31% mais chance de desenvolver emaranhados neurofibrilares, estruturas associadas ao Alzheimer.

No entanto, esses indivíduos não apresentavam placas amiloides, outro marcador típico da doença, segundo o neurologista David Pérez, diretor do Instituto Clínico de Neurociências (ICN) do Hospital Universitário 12 de Outubro, em Madri. 

Ainda assim, Páramo ressalta que essas pessoas poderiam ter desenvolvido a doença se não tivessem morrido: "Eles fazem parte da cascata que leva à doença".

David Pérez ressalta que a presença de emaranhados neurofibrilares não significa, necessariamente, Alzheimer, pois essas estruturas também aparecem em outras doenças neurodegenerativas causadas por traumas ou exposição a substâncias tóxicas, como o álcool.

Quando um bebedor é considerado um consumir "normal" de bebida alcoólica?

Páramo acredita que a categorização do estudo pode estar em desacordo com os padrões sociais, que tendem a ser muito mais elevados.

Quando uma pessoa afirma que bebe "a quantidade normal", essa dosagem pode ser mais parecida com consumo excessivo.

"Uma pessoa que bebe apenas uma dose por dia, provavelmente não seria considerada um bebedor moderado", observa o especialista.

Para o neurologista, em geral, "se dá muita importância a beber umas duas cervejas por dia". Ele alerta que, embora pareça inofensivo, o consumo diário de duas cervejas pode causar danos cerebrais significativos, como revelam estudos patológicos.  

Alguns danos são difíceis de reverter, aponta neurologista

O estudo revelou que o consumo excessivo de álcool no passado está ligado a menor massa cerebral em relação ao corpo e a pior desempenho cognitivo, segundo relatos de familiares.

Os ex-bebedores pesados foram os mais afetados, mesmo tendo parado de beber meses antes da morte. Segundo David Pérez, esses danos são difíceis de reverter, especialmente em idosos, sendo comparáveis a uma cicatriz permanente.  

É inevitável que aqueles que bebem mais percam a memória e a capacidade de raciocínio, entre outras coisas, acrescenta Páramo. Essa substância afeta vias muito sensíveis no cérebro, e o dano se acumula. 

Os efeitos tóxicos do álcool no cérebro são evidentes

O neurologista do Hospital Vithas Sevilla destaca que os bebedores pesados crônicos muitas vezes entram em um ciclo vicioso, com desnutrição e deficiências vitamínicas que agravam ainda mais os danos.

David Pérez, do ICN, enfatiza a importância do estudo, que confirma, por meio de autópsias, os efeitos tóxicos do álcool no cérebro: "O dano é muito evidente."

Mesmo o consumo ocasional excessivo de álcool causa danos em áreas do cérebro relacionadas à memória, afirma Páramo. Ambos os especialistas concordam que o estudo confirma o alerta da Organização Mundial da Saúde: não há quantidade segura de álcool.  

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