
Há anos o excesso de açúcar vem sendo ligado aos sintomas de hiperatividade em crianças. (Crédito: Shutterstock)
Quem nunca presenciou em uma festinha infantil as crianças correndo incansavelmente para cima e para baixo, abastecidas por uma mistura de brigadeiros, bolos e refrigerante?! É verdade que os açúcares (carboidratos) são uma das principais fontes de energia para o corpo - mas será que o excesso deles pode tornar as crianças hiperativas? Vamos entender!
Açúcar e hiperatividade: verdade ou mito?
Há anos a ciência tenta entender essa relação direta entre consumo de açúcar e hiperatividade. Nas décadas de 1970 e 1980, pesquisadores testaram um tipo de dieta extremamente restritiva como tratamento para o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
Nela, o açúcar, além de corantes artificiais e aromatizantes, foram completamente eliminados da dieta das crianças analisadas - e os resultados interpretados mostraram que uma grande proporção de crianças hiperativas respondia favoravelmente a essa dieta, melhorando o foco e o comportamento.
Estudos posteriores, porém, consideraram falhos os métodos usados nessas primeiras pesquisas, indicando um problema em estabelecer uma ligação direta entre o consumo de açúcar e o comportamento hiperativo - já que outras variáveis podiam afetar os resultados.
Esses estudos mais recentes mostraram, por exemplo, que menos de 2% do público analisado respondia às restrições - em vez dos 75% reivindicados nas primeiras pesquisas. Com uma melhor análise dos grupos de controle, esses estudos novos demonstraram, na verdade, que o açúcar não afeta significativamente o comportamento ou a capacidade de atenção das crianças.
Ou seja, não foram encontradas conexões realmente fortes entre açúcar e hiperatividade, sendo considerado um mito que o açúcar deixa as crianças mais hiperativas.
Pesquisas subsequentes, inclusive, reforçaram essas descobertas dos estudos, fornecendo ainda mais evidências de que o açúcar não causa hiperatividade em crianças, mesmo naquelas com diagnóstico de TDAH.
Apesar disso, a ideia ainda se consolidou na consciência pública e foi perpetuada ao longo dos anos por conta dessa ideia que surgiu com os estudos mais antigos, de décadas anteriores.
Qual a explicação então?
Você deve estar se perguntando: “Ok, se o açúcar não causa picos de hiperatividade, como explicar crianças mais ativas depois de comerem doces em festas, por exemplo?”. Calma, a ciência tem uma explicação para isso - e tem a ver com a dopamina!
Pesquisadores hoje em dia já sabem que o cérebro libera o neurotransmissor dopamina quando uma recompensa é recebida – como um delicioso brigadeiro, por exemplo. Essa liberação favorece a troca de informações do cérebro para as várias partes do corpo, sendo que a substância é conhecida como o hormônio da felicidade, do prazer e do aumento da motivação.
E uma onda de dopamina também revigora e estimula o movimento corporal, como já foi observado em outros estudos, inclusive, após o uso de drogas psicoestimulantes, como a anfetamina (que também libera esse neurotransmissor).
Isso significa que o comportamento mais hiperativo das crianças em relação aos alimentos açucarados pode ter como explicação exatamente essa “explosão de dopamina” no corpo, libertada pela expectativa constante de uma recompensa.
Regulando o consumo de açúcar
Apesar de não haver uma relação direta entre consumo de açúcar e hiperatividade, segundo a ciência, é sabido que ele pode afetar a saúde física e mental em vários níveis - por isso, seu consumo deve ser regulado, sobretudo em crianças, em que o corpo e o cérebro ainda estão em desenvolvimento.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda limitar o consumo de açúcar a menos de 10% da ingestão energética, incluindo os açúcares adicionados aos alimentos durante a fabricação, como os de balas, chocolates e biscoitos, e também açúcares naturais, como do mel, xaropes e sucos de frutas.
Além dos malefícios já citados, usar alimentos açucarados como recompensas pode fazer com que eles se tornem muito valorizados pelas crianças, o que pode levar aos comportamentos de hiperatividade já citados. Não por uma relação direta entre açúcar e produção de energia, mas sim pela liberação de dopamina estimulada.
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