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Polêmica Nestlé: empresa coloca mais açúcar em comidas de bebês de países pobres; entenda se isso acontece no Brasil
Isabela HenriquesPor  Isabela Henriques  | Redatora

Isabela é apaixonada por cozinhar (e comer) desde pequena. Durante as horas vagas, além de dar pitaco na comida alheia, gosta de ler livros de qualidade duvidosa, viajar e descobrir restaurantes pouco explorados do Rio de Janeiro.

Relatório feito por ONGs europeias acusa Nestlé de adicionar mais açúcar em alimentos infantis de países pobres dos que em países da Europa; empresa afirma que "variações nas receitas entre países dependem de vários fatores"


 

Polêmica Nestlé: empresa coloca mais açúcar em comidas de bebês de países pobres; entenda se isso acontece no Brasil

Nova polêmica diz que Nestlé acrescenta mais açúcar em produtos infantis de países em desenvolvimento (Créditos: Divugalção Nestlé/Canva)

Um relatório publicado na última quarta-feira (17) pelas ONGs Public Eye e IBAFAN acusa a marca Nestlé de adicionar açúcar em alimentos para bebês apenas em países mais pobres da Ásia, África e América Latina, enquanto oferece produtos mais saudáveis para países mais ricos da Europa. 

Nestlé adiciona açúcar em produtos infantis em países mais pobres, aponta relatório de ONG

O relatório faz análise de dois dos alimentos infantis mais famosos da marca: Nido (conhecido no Brasil como leite Ninho) e Cerelac (chamado no Brasil de Mucilon). Através dele foi possível perceber que o produto, vendido em várias partes do mundo, é oferecido na Europa sem adição de qualquer açúcar. Isso inclui a Suíça, país sede da Nestlé.

Em contrapartida, países como Filipinas, Nigéria, Senegal, Vietnã, Etiópia, África do Sul, Indonésia, Bangladesh, Tailândia, Brasil, Índia e Paquistão possuem adição de açúcar. Desses 12 países, apenas 5 possuem informações no rótulo sobre os níveis de açúcar, e o Brasil não está nesta lista.

As ONGs afirmam que a Nestlé pratica uma espécie de "regras dúbias" que contribuem para aumentar o risco de obesidade em crianças e tendem a desenvolver preferências por produtos mais doces que duram a vida toda.

Nos países acima citados, a Nestlé adiciona até 6 gramas de açúcar por porção, enquanto os mesmos alimentos contêm zero açúcar em países como Reino Unido e Alemanha. A maior quantidade de açúcar por porção foi encontrada na Tailândia, com 7,3 gramas. 

Confira o comunicado da Nestlé sobre a polêmica envolvendo adição de açúcar em produtos infantis de países pobres

Na última segunda-feira (22), a Nestlé liberou um pronunciamento em inglês no site oficial. Nele, a multinacional alega que eles aplicam os mesmos princípios de saúde, nutrição e bem-estar em todos os países, mas que existem variações nas receitas por questões diversas, como regulamentação e disponibilidade de ingredientes.

A publicação da Nestlé também afirma que os cereais infantis da marca podem ser encontrados com e sem açúcar adicionado nos países da Ásia, América Latina e América do Norte, assim como na Europa. Nada é mencionado sobre os países da África. 

 

"Pequenas variações nas receitas entre os países dependem de vários fatores, incluindo regulamentações e disponibilidade de ingredientes locais, o que pode resultar em ofertas com menos ou nenhum açúcar adicionado. Isso não compromete o valor nutricional de nossos produtos para bebês e crianças pequenas. Nossa linha de cereais na Europa vem com e sem adição de açúcares. O mesmo se aplica a vários mercados na Ásia, América Latina e América do Norte, onde também estão disponíveis opções sem adição de açúcar. Em todos os lugares onde nossos produtos são vendidos, seu perfil nutricional está em conformidade com todas as regulamentações locais ou regionais aplicáveis e se baseia nas mais recentes diretrizes científicas, recomendações dietéticas e regulamentações aplicáveis. Além disso, todos os açúcares adicionados (sacarose e xarope de glicose) estão sendo eliminados de nossos leites em todo o mundo para crianças acima de 12 meses", diz o pronunciamento.

Escândalo Matador de Bebês: entenda a primeira polêmica da Nestlé envolvendo adição de açúcares em alimentos infantis

Com o título de “O Matador de Bebês”, a investigação pela ONG inglesa War on Want relatou e denunciou a venda de fórmula infantil para bebês em países pobres através de táticas de marketing extremamente agressivas e sem escrúpulos. Diversas multinacionais do ramo alimentício foram citadas, mas o foco foi na marca Nestlé.

O relatório é de 1974 e acusa a Nestlé de enviar vendedoras de fórmulas infantis vestidas de enfermeiras a diversas aldeias africanas com o intuito de fazer com que as mães parassem de amamentar e começassem a usar as fórmulas, que já são reconhecidas pela OMS como menos saudável, além de serem mais caras.

Esse escândalo envolvendo a marca suíça levou a um boicote mundial e foi um divisor de água na regulamentação e legislação referente a esse tipo de alimento infantil. 

Por que crianças menores de 2 anos não devem comer açúcar? 

Segundo a Organização Mundial da Saúde, crianças menores de 2 anos não devem consumir nenhum tipo de açúcar ou adoçante, pois eles podem influenciar o paladar, fazendo com que o indivíduo desenvolva uma preferência por alimentos doces, aumentando as chances de diversas doenças como obesidade e diabetes. 

Brasil: leite Ninho e Mucilon tem açúcar? 

No Brasil, o leite Ninho não contém adição de açúcares e, no site, é possível encontrar a seguinte informação: “Este produto não possui adição de açúcar, apenas açúcares naturalmente presentes no leite.” Vale salientar que é proibido a adição de açúcar no leite no Brasil.

Porém, o Mucilon pode ser encontrado nas versões com açúcar e zero açúcar. A versão sem açúcares é chamada de Seleção da Natureza, e apesar de dizer na embalagem que é zero adição de açúcares, pode ser encontrado no rótulo 0,3g de açúcar por porção. O TudoGostoso não encontrou nenhuma informação que fale sobre essa quantidade de açúcar estar relacionada aos que estão presentes naturalmente em outros ingredientes.

Já a versão do Mucilon com açúcar conta com o ingrediente em segundo na lista, o que significa que ele é o segundo ingrediente com maior quantidade. Porém, até poucos anos atrás, apesar do ingrediente estar presente na lista, o açúcar não aparecia na tabela nutricional. Com as novas regras de rotulagem, a marca passa a ser obrigada a informar de maneira detalhada sobre o açúcar adicionado. 

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Como saber se um alimento presta lendo o rótulo? Cuidado com as pegadinhas!

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