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Duas estrelas Michelin contra IA: quem é capaz de criar os pratos mais criativos?

Bolo de cenoura foi um dos pratos apresentados no desafio; veja como o chef Ricard Camarena e a IA se saíram na competição

Duas estrelas Michelin contra IA: quem é capaz de criar os pratos mais criativos?

Bolo de cenoura foi um dos pratos apresentados na competição (Reprodução: @ricardcamarena)

Quem leva a melhor na disputa gastronômica: um chef com duas estrelas Michelin ou a inteligência artificial sob a direção de um físico que trabalha para a NASA? Esse foi o desafio aceito pelo cozinheiro valenciano Ricard Camarena ao ser convidado para competir com a IA na elaboração de um cardápio de alta gastronomia.

A criatividade é uma das ferramentas que a chamada "alta" cozinha considera essencial na sua evolução, como destaca o site ABC Gastronomia. E o que se pode esperar com o advento da IA na gastronomia?

Qual o papel da IA na gastronomia?

Num momento em que o setor da gastronomia começa a flertar com a IA, uma das questões levantadas nesse debate é se a tecnologia teria a capacidade de ser criativa, surpreendendo e superando as capacidades humanas.

Para instigar o debate, o físico basco Eneko Axpe sugeriu uma provocação com um desafio inédito. O chef consagrado Ricard Camarena, duas estrelas Michelin no seu restaurante em Valência, aceitou competir com a máquina guiada pelo cientista e professor em Harvard, além de colaborador da NASA.

"Pode a IA igualar ou mesmo superar o génio criativo de um chef já estabelecido e altamente valorizado?", questionaram os organizadores do evento San Sebastián Gastronómika, onde aconteceu o desafio.

"Esta proposta visa abrir um diálogo sobre o futuro da culinária e da colaboração entre humanos e máquinas em campos criativos, levantando questões fascinantes sobre o papel da IA em campos tradicionalmente dominados pelo instinto humano."

Ingredientes sugeridos para o desafio gastronômico

O público presente elegeu uma lista de ingredientes com cinco elementos para o prato de entrada: batata, castanhas, ostras, figo e atum. Não era obrigatório utilizar todos.

Para o segundo prato, um produto obrigatório: a pescada. O público escolheu as técnicas culinárias: curado no sal e/ou assado.

Camarena e a equipe liderada por Eneko Atxa escolheram cinco ingredientes aleatórios de uma lista que poderiam ou não ser usados ​​e isso será decidido pelo Chat GPT. A sobremesa será um bolo de cenoura.

O menu IA comparado ao de um Michelin de duas estrelas

A base desse experimento foi a criação de um menú completo: primeiro prato, segundo prato e sobremesa. As mesmas regras, os mesmos ingredientes e diretrizes principais valendo para os dois participantes.

A diferença é que o chef aplica apenas a sua experiência e a sua capacidade criativa humana. Já os pratos de IA são executados por Daniel Barrionuevo, chef e pesquisador da Fundação Alicia, e Laia Badal, cientista e pesquisadora, que seguem as orientações e instruções geradas pela máquina.

Conheça os pratos dos competidores

O júri do desafio contou ainda com Joan Roca, chef renomado com três estrelas Michelin. Veja quais foram os pratos de cada competidor.

1. Primeiro prato (entrada):

Ricard Camarena usou a cabeça do peixe com água de ostra na panela de pressão, acrescentando talos de manjericão e casca de figo para extrair uma essência do atum.

Ele usou flocos de peixe maçaricado, praticamente crus, com tartar de figo, castanhas assadas e um óleo macerado de todas as cascas de figo e manjericão. O prato contou com chips desidratados, mergulhados em óleo de manjericão e sal.

Inteligência Artificial fez uma base de batata com tempero de figo e vinagre. Com a barriga do atum e a ostra, foi feito um tartar. "O que ele nos disse por escrito e a imagem que ele gerou para nós não eram os mesmos".

"A IA ainda entra nas técnicas culinárias. Já trabalhamos antes para pedir pratos para os refeitórios escolares, coisas mais básicas, e tem sido mais eficaz. Ela ainda não tem muita formação em alta gastronomia", declarou Laia Badal.

2. Segundo prato (principal):

A IA pediu que os cozinheiros curassem a pescada em sal durante 20 minutos e a assasse. "Já experimentei pratos desenhados pela IA e podiam competir perfeitamente com os de uma estrela Michelin”, afirmou Axpe.

Outros ingrediantes usados: o queijo espanhol Idiazabal, pimenta Guernica e piparras (pequenos pimentões verdes).

Ricard Camarena usou anchova, pimenta Guernika, piparra, tomate e cebola. Fez um refogado doce com as peles e sobras do peixe. Ele curou o peixe com as próprias anchovas por alguns minutos e fez ainda um óleo de café amassado com farinha, quase um "velouté".

Em seguida, assou a cococha do peixe e colocou no corte da pescada, com aquele molho, o azeite castanho e um pouco de malagueta. "Queríamos algo ajustado à realidade. Preste mais atenção à intuição do que à reflexão”, comentou o chef valenciano.

3. Sobremesa:

IA: "Cenoura cozida em água, sem sal nem açúcar. Ela nos fez fazer um bolo de cenoura para esfarelar. Uma geleia de cenoura. Batatas fritas e pimenta em pó", disse Axpe sobre a sobremesa proposta pela Inteligência Artificial.

Camarena optou por fazer um biscoito amanteigado bem picante para fazer uma mousse de biscoito, quase como uma emulsão de manteiga, com muitas sementes e nozes para dar crocância. As cenouras foram cozidas com vinagre de xerez e depois glaceadas e acrescentamos um toque láctico com o soro escorrido do iogurte.

O resultado do desafio entre chef e IA

"Nos dois primeiros pratos, ficamos inclinados para os pratos de Ricard. A da IA ​​foi uma sobreposição de ingredientes, sem alma", explicou José Carlos Capel, presente no júri. "Embora aquele com IA não tivesse alma, era bom", acrescentou Joan Roca.

No prato da pescada, todos concordaram que o vencedor claro também foi o prato de Camarena. Na sobremesa, o chef e o IA "empataram": "Nenhum estava à altura da tarefa."

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