
Aumento na produção de azeite na Espanha pode não ter um efeito tão positivo assim. (créditos: Shutterstock)
Há alguns anos, o preço do azeite de oliva se tornou um tópico sensível aos consumidores. Aqui no Brasil, uma garrafa do tipo extravirgem, o mais puro, pode chegar a R$60. Essa crise que assombra os nossos bolsos é resultado de problemas de produção de azeite em países como Espanha e Portugal, as duas maiores potências do azeite do mundo.
Após anos de seca e baixa produção, a colheita deste ano foi muito boa — mas isso causou uma queda acentuada nos preços pagos aos produtores. Como o setor já estava enfraquecido, a situação agora é crítica, especialmente para os pequenos agricultores que dependem de olivais tradicionais (sem irrigação). Mesmo com grande produção, muitos estão tendo prejuízo, o que ameaça a sustentabilidade da atividade.
Mas o que isso tem a ver com o azeite que colocamos nas nossas saladas? Descubra a seguir.
Por que o aumento da produção de azeite pode ser um problema?
No fim de janeiro, metade dos lagares de azeite da Espanha estavam operando 24 horas por dia e prestes a triplicar a produção de azeitonas em relação ao ano anterior. Isso parecia uma excelente notícia, especialmente depois de anos de seca. No entanto, como já era previsto por alguns especialistas, essa abundância está se transformando em um problema.
Pode parecer contraditório: em anos anteriores, o problema era a falta de azeitonas, o que elevava os preços — mas mesmo assim, mal compensava os custos de produção. Em 2023, por exemplo, a maior empresa de azeite do mundo, a espanhola Deoleo, teve prejuízo de 34 milhões de euros.
Agora, há muitas azeitonas, mas o setor está tão fragilizado que não consegue controlar a queda dos preços. O resultado é que, mesmo com um aumento de produção, a situação econômica piorou para os produtores.
Embora o preço final ao consumidor não tenha caído muito, os preços pagos aos produtores despencaram. Em março, foram vendidas 135 mil toneladas de azeite (incluindo importações) a um preço médio de 3,62 euros por litro — abaixo da linha de rentabilidade tradicional, que gira em torno de 4 euros para olivais secos, que ainda são a maioria na Espanha.
Essa queda de preços ameaça as reservas estratégicas, que são importantes para estabilizar o mercado ao longo do ano. E isso preocupa os produtores, pois o azeite está sendo vendido a um ritmo insustentável.
Segundo Jesús Cózar, secretário-geral da UPA Andalucía, os olivicultores perderam 270 milhões de euros só em março — cerca de 8 milhões por dia. Ele afirma que não há motivos objetivos para os preços estarem tão baixos, e que, considerando as reservas atuais, o valor pago aos produtores deveria ser bem maior.
Diante disso, o que poderia ser um ano de recuperação se transformou em mais um período de dificuldades para o setor.
Crise do azeite na Espanha: o que isso pode influenciar no Brasil?
A atual crise no setor de azeite na Espanha, marcada por uma superprodução e queda nos preços pagos aos produtores, pode parecer um problema distante para os brasileiros. No entanto, os efeitos desse desequilíbrio no maior produtor mundial de azeite têm o potencial de impactar diretamente o mercado brasileiro em diversos aspectos.
Com o azeite sendo vendido a preços mais baixos na origem, é possível que os custos de importação diminuam para os distribuidores no Brasil. Isso pode resultar em uma queda nos preços ao consumidor, embora outros fatores — como taxas de importação, logística e margem de lucro dos revendedores — também influenciem no valor final nas prateleiras.
Com o setor pressionado, os especialistas afirmam que também há risco de aumento na exportação de azeites de qualidade inferior, como forma de escoar rapidamente os estoques. O consumidor brasileiro, que já enfrenta desafios na identificação de azeites puros e bem conservados, pode ficar mais exposto a produtos com menor padrão ou até adulterados, caso a fiscalização não seja rigorosa.
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