Afinal, beber vinho moderadamente aumenta a longevidade? Declarações recentes do ministro da Agricultura de Portugal, José Manuel Fernandes, sobre essa questão levantou discussões no País.
Conforme ele afirmou, na região do Cávado, onde a longevidade é maior, as pessoas consomem vinho verde. Os profissionais de saúde o acusaram de associar, sem evidência científica, o consumo de vinho à longevidade.
Para esclarecer a questão, a CNN Portugal recorreu às explicações de especialistas para entender de que forma o vinho pode impactar a saúde e a longevidade.
O consumo de vinho tem ou não relação com a longevidade
Segundo o ministro, "o consumo de vinho de forma moderada não faz mal". Os médicos de saúde pública discordam e afirmam que não existe um "nível seguro" no consumo de álcool.
"Declarações como essa contribuem para normalizar o consumo, desvalorizam a problemática (do alcoolismo), lançam confusão sobre aquilo que está cientificamente confirmado", explicou Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública.
Em muitos países, acredita-se que beber uma taça de vinho tinto pode ser benéfico à saúde. Além disso, alguns artigos têm destacado os efeitos desta bebida na longevidade, assim como uma possível relação com a dieta mediterrânea.
"Há muitos estudos, sim, mas a análise global é de que não existe um benefício efetivo para a saúde", afirma Gustavo Tato Borges.
Conjunto de fatores refletem na longevidade, afirmam especialistas
Os médicos destacam que os efeitos na longevidade são reflexo de um conjunto de fatores, dentre eles uma vida ativa, incluindo prática de exercícios físicos e uma dieta equilibrada.
"Temos de ter cuidados quando analisamos os dados globais da saúde e dos seus riscos. A questão aqui não é a área geográfica onde se consome. Antes as condições de vida, o acesso a cuidados de saúde ou a prática de exercício físico", alerta o médico.
O vinho pode fazer bem à saúde?
Segundo a nutricionista Conceição Calhau, professora da Nova Medical Schoool, com mais de 30 anos de investigação em alimentos fermentados, o seguro para o álcool é zero: "Quando falamos em estilo de vida, estamos falando de um conjunto de circunstâncias."
Diana Picas Carvalho, nutricionista do Hospital Trofa Saúde em Loures e Barcelos, acrescenta: "A evidência atual não permite afirmar com certeza que o vinho está associado à longevidade. É mais seguro dizer que o consumo moderado de vinho pode fazer parte de um estilo de vida saudável para algumas pessoas. A moderação é fundamental."
Com relação aos benefícios ao coração, o vinho tinto, da uva roxa, costuma ter melhor fama do que o de uva verde, o vinho branco. No entanto, os nutricionistas preferem não usar o termo "saudável".
"O vinho, sobretudo o tinto, tem compostos químicos que são interessantes do ponto de vista da saúde. Mas isso não deve ser utilizado como argumento", explica Conceição Calhau.
Segundo Diana Caravalho, "o resveratrol é um antioxidante do vinho frequentemente associado a efeitos benéficos", mas afirma que ainda são necessários mais estudos em humanos para se tirar conclusões.
Cardiologista cita os reais efeitos do vinho para a saúde do coração
Hélder Dores, membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, resume sobre os efeitos do consumo de vinho ao coração: "Não há dúvidas de que aumenta o risco de várias doenças, incluindo cardiovasculares”.
Segundo o médico cardiologista, as pessoas que têm maior longevidade são beneficiadas por "práticas de mais exercício físico, por comerem melhor, por serem menos obesos".
E acrescenta: "Não há benefícios do álcool, nem nenhum estudo que conheça que o diga.”
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