Uma das comidas de Carnaval mais típicas e históricas é a feijoada. Há muito tempo existe o costume de se reunir com os amigos em uma roda de samba para tocar e cantar músicas do estilo. E, para dar toda a energia para a folia, não podem faltar as tradicionais receitas de feijoada.
Mas você sabe como esse costume começou? Os créditos desta tradição carnavalesca deliciosa vão para uma pessoa que tem uma grande importância na história do samba: a Tia Ciata. Descubra no TudoGostoso a história desta matriarca do samba e como a primeira roda do samba com feijoada aconteceu.
A história da Tia Ciata e das tradições do samba estão entrelaçadas (Crédito: Divulgação/Acervo da Organização Cultural Remanescentes de Tia Ciata - ORCT)
Quem foi Tia Ciata?
Tia Ciata foi uma mãe de santo que é chamada de matriarca do samba pela influência que teve no desenvolvimento e na popularização da música no século 19, ainda na origem do Carnaval brasileiro como ele é hoje, com carros alegóricos e fantasias de Carnaval. Ela nasceu em 13 de janeiro de 1854 em Santo Amaro, na Bahia, com o nome Hilária Batista de Almeida. Com 16 anos de idade participou da Irmandade da Boa Morte como filha de Oxum, iniciada na casa de Bambochê da nação Ketu. Quando foi confirmada no santo, recebeu o nome de Ciata de Oxum.
Aos 22 anos de idade, se mudou da Bahia para o Rio de Janeiro e se estabeleceu na região do centro da cidade, na Zona Portuária. Aqui ela conheceu e se casou com um funcionário público e construiu sua família com ele e os 15 filhos em um casarão de 6 quartos. Simultaneamente continuou os preceitos do santo na casa de João Alabá, onde se tornou Mãe-Pequena, e passou a participar ativamente das comunidades negras da Pequena África.
Tia Ciata se juntou a outras tias baianas como as primeiras quituteiras da região com as suas roupas brancas repletas de acessórios e pratos típicos da comida nordestina herdados pela cultura africana. As roupas eram confeccionadas por elas mesmas, que ainda costuravam para vender para outras baianas.
Com uma dose de empreendedorismo, essas duas atividades se tornaram fonte de renda para Tia Ciata e para muitas outras mulheres que se mudaram para essa diáspora baiana. Grande apreciadora da sua cultura e música, Tia Ciata recebeu convidados para saraus, bailes e rodas de samba até a sua morte em 1924, sempre com alegria e muita comida.
Qual a importância da Tia Ciata?
A Tia Ciata era dedicada em suas atividades e foi uma das responsáveis por levar as tradições africanas da Bahia até o Rio de Janeiro enquanto criava as próprias raízes na Zona Portuária. Adorava sambar e o fazia com elegância e maestria. Seu grande casarão na Praça Onze recebia convidados ilustres do cenário cultural do Rio de Janeiro e ela fazia questão de sempre ter panelas cheias de comida para seus visitantes.
A casa da Tia Ciata passou a ser quase uma capital da Pequena África, a ponto de seus eventos serem reconhecidos e autorizados pelo presidente Venceslau Brás entre 1914 e 1918 após ela ter ajudado o mesmo a cuidar de uma ferida. Isso em uma época na qual havia muita perseguição às religiões de matriz africana e aos batuques do samba, até então proibidos.
No seu quintal foi composta a primeira música brasileira identificada como samba, “Pelo Telefone”, um grande sucesso no carnaval de 1917. Por causa disso, muitos pesquisadores consideram a casa da Tia Ciata como o local de nascimento do samba. Nos primeiros desfiles das Escolas de Samba, já após sua morte, o trajeto obrigatório passava em frente à famosa casa.
A feijoada nas rodas de samba de Tia Ciata eram famosas (Crédito: Shutterstock)
Como surgiu a tradição da feijoada com samba?
Nas rodas de samba da Tia Ciata sempre havia comida caseira de sobra. A quituteira e matriarca da família tinha talento na culinária e preparava pratos que aprendeu na Bahia e que tinham fortes influências da época escravidão e das tradições africanas. Para alimentar um grande grupo de pessoas na véspera do período de jejum de carne que rendeu o nome da festa do Carnaval, o prato principal não poderia ser outro senão a feijoada.
A feijoada com samba da Tia Ciata era famosa. Com feijão preto, miúdos de porco e temperos com a força da Bahia, muitos diziam que a comida servida nas grandes panelas era abençoada pelos Orixás. Não tinha quem resistisse ao prato que era garantido em toda roda de samba da anfitriã. Ou seja, a tradição de feijoada com samba faz parte da própria origem do estilo musical. Assim como a música, o costume se espalhou e passou a ser servido em outros encontros de sambistas a ponto de continuar sendo um hábito mais de um século depois no feriado do Carnaval.
Veja mais:
Os melhores destinos no Brasil para curtir o Carnaval com muita folia
Comidas que são patrimônio cultural brasileiro: veja quais delícias marcaram história no país
Carnes para feijoada: saiba como escolher as melhores