“Quando você tem conhecimento, você faz qualquer ingrediente ser brilhante”. Para o chef, nascido na Bahia e criado no Complexo do Andaraí, no Rio de Janeiro, a culinária pode e deve ser democrática e transformadora. Através de pratos feitos com ingredientes simples, mas muito conhecimento, João Augusto Santos Batista, o Chef João Diamante, construiu sua carreira na cozinha e incentiva futuros cozinheiros em seus projetos sociais.
A trajetória gastronômica de mudança e ativismo do múltiplo Chef João Diamante
O começo do Chef João Diamante na Marinha do Brasil e os pratos deliciosos que marcaram sua carreira
A relação de João na cozinha começou durante seu período na Marinha do Brasil, onde se destacava cozinhando para as autoridades. Ali começou a perceber o poder da comida para transformar o dia a dia das pessoas ao seu redor. O prato mais marcante era simples, mas muito gostoso. “Um prato que eu fiz e que eu lembro até hoje, que virou um prato emblemático de onde eu trabalhava, era um penne ao molho de camarão. É uma coisa simples, mas é uma muito gostoso e as autoridades ali presentes sempre pediam, aí foi esse prato que me deu o reconhecimento de estar fazendo um bom trabalho dentro do da cozinha lá da Marinha e que me deu projeção. Eu ganhei oportunidade de fazer um estágio no Iate Clube e, consequentemente, comecei a fazer a faculdade”, conta o chef.
João viu sua vida mudar com as oportunidades que apareceram no caminho. De cozinheiro da Marinha a estudante de gastronomia, passando por um estágio no restaurante Le Jules Verne, localizado na Torre Eiffel, em Paris. Das muitas receitas que o acompanharam nessa trajetória, uma tem um lugar especial no coração do chef. “Um outro prato que é muito emblemático na minha carreira é o ovo crocante, porque é um prato de ingredientes supersimples: ovo, músculo, mandioca, ingredientes acessíveis a todo mundo, mas com uma quantidade de técnicas que fazia o prato elevar ali o seu patamar. Era um prato em que o ovo era uma técnica de ovo molê, mas a gente empanava o ovo e fritava ele, ou seja, ele ficava crocante por fora e mole por dentro. Uma musseline, um creme bem liso de mandioca com um pouquinho de manteiga de garrafa - que eu chamo de azeite trufado brasileiro - e aí tem uma redução de músculo do lado acompanhada de um pãozinho. Era uma coisa muito simples, mas - como tinha muita técnica - era muito rica em sabor”.
Distribuir conhecimento e oportunidades faz parte da cozinha do chef
O que difere o chef João Diamante dos muitos brasileiros que o admiram? A resposta está em uma palavra que ditou o tom da nossa conversa: a oportunidade. Para ele, o acesso ao conhecimento é a chave para trazer a alta gastronomia para mais perto da população. “É como Nelson Mandela diz, a educação é a arma mais poderosa que você tem para transformar o mundo. Acho que, se todo mundo tiver acesso ao conhecimento de qualidade, a gente consegue realmente chegar e botar a alta gastronomia perto dos brasileiros”, conta.
Chef João Diamante e seu projeto social Diamantes na Cozinha
Do desejo de mudar vidas através da gastronomia e incentivar mais histórias como a sua, nasceu o projeto social Diamante na Cozinha. “É um projeto social que utiliza gastronomia como ferramenta, mostrando para eles que é possível, sim, eles terem acesso, basta ter conhecimento. Esse conhecimento tem que ser distribuído de uma maneira mais democrática”, diz. É um trabalho constante para lapidar novos diamantes e, como ele gosta de dizer, usar a gastronomia como instrumento de transformação social, formando e empoderando bons profissionais e seres humanos.
Para João, que também é ativista, o importante é que todos tenham as mesmas oportunidades que um dia ele teve. E, é claro, a representatividade tem um papel importantíssimo nessa missão de alcançar quem, segundo ele, é “a base que faz a coisa girar”. “A pessoa se vê e acredita que pode chegar. Porque tem uma pessoa que sai do nordeste preto, pobre, favelado, desenvolveu a vida toda dentro de uma favela, com toda a dificuldade e com todas as adversidades, conseguiu chegar onde chegou. Com muito suor, com muito sacrifício, com muito esforço, aproveitando as poucas oportunidades que teve, mas conseguiu aproveitar. E tem pessoas que não têm oportunidade, isso dá um gás, a pessoa fala assim 'dá para acreditar, eu consigo chegar também porque ele saiu do mesmo nível que eu, do mesmo lugar que eu'”, conta.
João como palestrante no Fórum sim à igualdade Racial, em 2019
Com o Diamantes na Cozinha, conseguiu arrecadar mais de 18 toneladas de alimentos, doadas pelos restaurantes que pararam de funcionar durante o fechamento comercial, e distribuiu para pessoas em situação de vulnerabilidade nas comunidades do Rio de Janeiro. Através de capacitação e distribuição de alimentos, o projeto já transformou direta e indiretamente a vida de mais de 2 mil pessoas.
Três formas diferentes de aproveitar a gastronomia de João Diamante
Existem várias formas de acompanhar o trabalho do chef mais de perto e a primeira delas é ligar no canal Woohoo e assistir o programa Garimpeiro do Sabor. Lá ele visita restaurantes da Zona Norte e das favelas cariocas, em busca de pedras preciosas muitas vezes desconhecidas pelos moradores da cidade. Também é possível ver a participação do Chef João Diamante na quarta temporada da série Somebody Feed Phil. E, é claro, você pode visitar o restaurante itinerante Na Minha Casa, uma experiência única com muito aconchego e comida caseira da boa. Quer uma dica bônus? Então dá uma olhada nessa receita de bolinho de tapioca com queijo coalho que o chef compartilhou exclusivamente com o TudoGostoso e testa em casa: a gente tem certeza que vai fazer o seu fim de semana mais gostoso!
*Matéria feita em colaboração com Marianna Ferreira.