
Marcos Ferreira e Ilcéi Mirian organizam a Feira Afro Mix desde 2004. (Foto: Arquivo Pessoal)
São 20 anos de história, 27 edições e muita troca cultural que embalam a tradicional Feira Cultural Afro Mix, que acontece, geralmente, duas vezes por ano em Campinas, São Paulo. Além de ser uma oportunidade de desfrutar da moda e artesanato afros, festejar, ouvir boa música, comer e beber bem, o evento tem a missão de apresentar a cultura afro-brasileira para todas as etnias e se apresentar como uma ação afirmativa que valoriza o povo negro.
Para entender um pouco mais sobre a história da Feira Afro Mix, que movimenta cerca de 10 mil pessoas por edição, TudoGostoso entrevistou seu idealizador, Marcos Antônio Ferreira. Ele conta que a ideia de feira teria partido de um sonho e que tomou forma junto da sambista e produtora cultural Ilcéi Mirian. Descubra todos os detalhes nas próximas linhas!
A origem da Feira Cultural Afro Mix
Marco Ferreira tem 60 anos e é Técnico de Segurança do Trabalho, mas é de criança que sua conexão com a cultura negra começa.
“Desde criança ouvia muito Samba, Samba-Rock, Black Music Nacional e Internacional, enfim, a chamada Música Preta. Mais tarde conheci o Rap Internacional e o Nacional, sempre antenado com o que acontecia com a nossa comunidade que, muitas vezes, espelhava-se nos negros norte-americanos”, conta.
Apesar de buscar inspiração na comunidade negra, ele conta que não se identificava com a moda produzida no Brasil, muito menos na sua cidade. Com o passar dos anos, foi nascendo o desejo de ter mais contato com o povo negro, assim como seus símbolos culturais, até que teve um sonho.
“Pensei o quanto seria bom reunir o povo negro com maior frequência ou então agregar em um mesmo espaço, tudo o que nos representasse. Em 2003, tive um sonho no qual as pessoas, revivendo a prática do escambo, trocavam entre si produtos afro, como roupas, bijuterias e comidas”, explica.
Marcos compartilhou seu sonho com Ilcéi Mirian, hoje sua sócia, que lhe informou que havia acontecido em 2002 a primeira Feira Preta de São Paulo. A partir dessa ideia, em 2004 se reuniram com mais seis pessoas e criaram o Grupo Afro Mix com o objetivo de realizar a Feira Cultural Afro Mix.
Evento coleciona feedbacks positivos
Para quem cresceu frequentando a feira, trata-se de muito mais do que apenas um evento, mas uma ação afirmativa essencial para a autoestima do povo negro, para que esse núcleo de pessoas seja contratado, valorizado e mencionado. Outro ponto de destaque é o incentivo ao afroempreendedorismo, que permite que os empreendedores possam desenvolver suas marcas.
“[O evento é importante para que] os empreendedores(as) possam crescer e estabelecer uma rede forte de pessoas que pensam seus empreendimentos levando em consideração as necessidades do povo negro e a dívida histórica que a branquitude tem conosco”, disse.
Marcos conta que o evento foi abraçado integralmente pela comunidade, “que nutrem amor profundo pela Afro Mix” e que “a defendem com ‘unhas e dentes’”:
“Muitas pessoas sugerem edições bimestrais e até mensais. Pelo fato do evento acontecer continuamente desde 2004, muitas pessoas frequentam a feira desde crianças, acreditamos que seja por isso que elas se sintam tão à vontade que não se consideram somente convidadas para o evento, mas se consideram parte dele, o que, de fato, são”, conta.
Marcos também expressa a sua gratidão à ancestralidade, aos Orixás e aos que abriram caminho na luta ao combate ao racismo e aos povos de todas as etnias que caminham junto do povo negro:
“Seguindo a mensagem de Angela Davis ‘numa sociedade racista, não basta não ser racista! é necessário ser antirracista’”, disse.
Próxima edição será em novembro
Quem ainda não teve a oportunidade de conhecer a Feira Afro Mix Cultural terá a chance de participar da próxima edição, que acontecerá em 26 de novembro, na Plataforma da Estação Cultura, em Campinas, São Paulo. Diversas atrações já estão confirmadas, como a cantora Ilcéi Mirian, DJ JP e Grupão de Dança Afro Mix (Coreógrafa Eshiley).
Para quem vai em busca de quitutes deliciosos, não vão faltar opções! Acarajé, escondidinho, baião de dois, macarrão no pote, hot dog e mufete, um prato africano, e outros lanches estão na lista de pratos salgados.
Se você é do time doce, prepare-se para comer sorvete, açaí, copo de felicidade, bolo de pote, pipoca, chocolate no morango, brigadeiro e muito mais. A organização também informa que haverá opções de salgados e doces veganos.
A moda e o artesanato são um destaque à parte. É possível encontrar os mais variados itens na Afro Mix, passando por roupas, acessórios, decoração, bijuterias e utensílios. Tudo isso em mais de 70 espaços com produtos nos quais a comunidade negra se enxerga, com marcas que expressam a representatividade preta, conforme explica Marcos.