
Festival dos Botos são realizados durante dois dias de Sairé. (Foto: Divulgação/Prefeitura de Santarém)
A Festa de Sairé movimenta Alter do Chão todos os anos com sua programação rica, que envolve religiosidade, folclore, cultura e muita diversão. Dentro desse cronograma está também o Festival dos Botos, uma disputa no estilo do Festival Folclórico de Parintins, só que com botos ao invés dos bois, e que divide a cidade em times em torno da icônica apresentação.
O festival acontece anualmente no terceiro final de semana de setembro. Neste ano, o Boto Tucuxi se apresentará na sexta, 15, e o Boto Cor de Rosa no sábado, 16. A apuração da competição é realizada no último dia da festa, na segunda, 18. Segundo a Prefeitura de Santarém, o Sairé deve movimentar cerca de R$15 milhões no município.
O que é o Festival dos Botos?
Considerado o lado profano da Festa de Sairé, o Festival do Botos acontece dentro da programação da festa principal. Não é uma tradição tão antiga quanto o Çairé, já que foi criada há menos de 30 anos, mas ajudou a elevar a popularidade do evento e ainda manteve as raízes folclóricas. O Festival dos Botos é, portanto, uma competição entre duas associações folclóricas de botos, o Boto Cor-de-Rosa e o Boto Tucuxi.
A proposta é que cada associação traga a encenação do tradicional ritual dos botos, mas com elementos criativos e novidades a cada ano. Dessa forma, foi criada a rivalidade entre os times de uma forma saudável e alegórica. A tradição foi diretamente inspirada pelo Festival dos Bois de Parintins, do Amazonas, com a disputa entre o Garantido e o Caprichoso, e com danças e carros alegóricos em desfiles ao estilo do Carnaval.
História do Festival do Botos
O festejo se deu como uma forma de homenagear a lenda do Boto, que faz parte da cultura da região. Sua primeira aparição em Sairé foi em 1997, de forma mais modesta. Era realizada por pescadores e comunidades ribeirinhas como uma maneira de agradecer pelas bênçãos do rio. Nessa época, os botos Tucuxi e Cor de rosa se apresentavam lado a lado. A competição entre ambos começou apenas em 1999.
O Festival dos Botos também provocou a mudança do local de realização do Sairé, saindo da ramada montada ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Saúde para o Sairódromo. Nesse contexto, também foram incluídos shows de músicos de renome nacional. Apesar de deixar de lado a parte mais tradicional do Sairé, a introdução dos novos elementos como o Festival do Boto ajudou a atrair um público menos religioso, estimulando mais visitas a Alter do Chão.
Como é o Festival dos Botos em Alter do Chão?
Na frente da praça dos mastros está a Arena dos Botos, um espaço onde são apresentados diversos shows culturais e musicais. Desde 2022, cada boto se apresenta em um dia diferente. Na sexta e no sábado acontecem espetáculos com som, luzes, danças e torcidas.
Na disputa dos botos, a cidade é dividida entre o Boto Cor de Rosa e o Boto Tucuxi. Os dois apresentam a tradicional lenda que deixou esses animais famosos na região amazônica. Segundo a história, o boto se transforma em um homem que encanta as mulheres ribeirinhas com a ajuda de um violão. Elas se entregam aos encantos do boto e acabam engravidando. Quando isso acontece, o homem recupera seu formato animal e retorna para o rio.
Além de ser uma oportunidade de festejar e celebrar as manifestações culturais da região, com o passar dos anos, o Festival do Boto ganhou um caráter ambiental, estimulando a conscientização e trazendo luz aos diversos desafios do ecossistema amazônico.
À medida que a região começou a atrair mais atenção, a celebração evoluiu para um evento maior, envolvendo danças e músicas que retratam a herança cultural. Assim, palestras e debates sobre a importância da preservação da natureza, do rio e da fauna também foram incluídos no cronograma.
Simbologia dos botos no folclore do Amazonas
No coração da Amazônia, a riqueza cultural do estado do Amazonas é permeada pela simbologia dos botos-cor-de-rosa e boto-tucuxi. Com suas cores vívidas e comportamento enigmático, esses animais desempenham um papel fundamental no folclore local, transcende o mundo real para se tornarem ícones de histórias e lendas que são passadas de geração em geração.
Os botos-cor-de-rosa ocupam um lugar especial no imaginário amazônico. São protagonistas de lendas como a do "Boto Cor-de-Rosa", um sedutor misterioso que emerge dos rios durante festas juninas para conquistar corações humanos. Essas narrativas complexas exploram temas de amor, natureza e transformação, conectando a vida ribeirinha com o mundo mágico dos rios e da floresta.
Já os boto-tucuxi, também conhecidos como "sotalia fluviatilis", são considerados guardiões dos rios e seus habitantes. Na tradição, eles intervêm para proteger pessoas em perigo nas águas amazônicas. Esses botos assumem um papel mais benevolente nas histórias locais, ressaltando a importância da harmonia entre os seres humanos e o ecossistema aquático da região.
A simbologia dos botos não se limita ao passado: ela permanece vibrante na cultura contemporânea do Amazonas através de performances teatrais e apresentação como o Festival dos Botos, que celebra a cultura da região. Além disso, a preservação dos botos se tornou uma causa importante, enfatizando não apenas sua relevância como ícones culturais, mas também como espécies vitais para o ecossistema da Amazônia.
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