Vinho e viagem tem tudo a ver e isso inclui as viagens no tempo e na história. Boa parte dos primeiros vinhedos no Brasil foram cultivados por famílias de imigrantes que vieram de regiões com tradição em vinho, como Itália. Enquanto alguns mantém viva os processos que herdaram e até moram nas casas que eles construíram, outros conseguiram manter até as videiras. Em particular, a vinícola familiar Strapazzon em Bento Gonçalves, a capital brasileira do vinho até hoje produz seu vinho com uvas de uma videira plantada mais de 100 anos antes. Descubra no TudoGostoso a história da vinícola com uma das videiras mais antigas do Brasil e que vale a pena conhecer.
Qual a história das videiras da Cantina Strapazzon?
A videira brasileira que ainda produz uva depois de mais de 100 anos em questão fica na vinícola Cantina Strapazzon. O cultivo de vinho colonial, ou seja, de produção familiar, começou com a chegada de um casal italiano da família Strapazzon ao Brasil. Alguns anos após desembarcarem na região de Bento Gonçalves em 1875, eles construíram uma singela casa de pedra e barro e nos campos começaram a cultivar a variedade da uva Isabel. A fazenda tinha outras plantações para se manterem, mas o vinho e o suco das uvas não era vendido e servia apenas para a família.
Foi só nos anos 90 que a quarta geração da família, comandada por Vilso Strapazzon, abriu as portas para o público. Hoje a Vinícola e Cantina Strapazzon faz parte do Caminhos de Pedra, um roteiro de visitação para casas e construções originais dos primeiros imigrantes italianos em Bento Gonçalves, muitos que de fato tem uma estrada feita de pedra para chegar. Um verdadeiro museu vivo que preserva arquiteturas centenárias como a casa de 1880 dos Strapazzon, o roteiro é até Patrimônio Histórico do Rio Grande do Sul.
O que tem na Cantina Strapazzon?
A Cantina Strapazzon hoje tem atividades moldadas para os turistas que desejam conhecer a casa e as videiras históricas. Turistas podem andar por entre as videiras , entrar na casa de pedra onde ficam os barris e degustar vinhos, licores e sucos com a uva. Como o trabalho todo é familiar, são os próprios descendentes dos primeiros Strapazzon no Brasil que contam a história da família e do trabalho que fazem nas plantações. A degustação é uma das mais em conta da capital brasileira dos vinhos e sai a partir de R$25 e tem provas de cinco ou mais rótulos diferentes com e sem álcool.
Quem tem vontade de participar da produção do vinho pode visitar a Cantina Strapazzon durante a vindima para a colheita e pisa das uvas na tina de madeira. A programação completa dura 2 horas e tem ainda a visita guiada pela vinícola, música italiana ao vivo e um lanche típico italiano com pão, salame, queijo, geleia e, claro, vinho. A vindima acontece durante os meses de janeiro a março e precisa de reserva antecipada. Em qualquer visita, além de provar o vinho, é quase obrigatório levar um dos pães coloniais deliciosos feitos com as receitas herdadas pela família e dignas de uma nonna italiana.
Caminhar pela estrada de pedra, andar pelas videiras centenárias e entrar na casa de barro é uma viagem no tempo e também por dentro do cenário de filmes e de novelas. Em 1995 a Cantina Strapazzon foi usada para filmagens do filme brasileiro indicado ao Oscar O Quatrilho. Um lugar bem propício para isso, já que o filme conta a história de dois casais de uma comunidade de imigrantes italianos no Rio Grande do Sul que dividem a mesma casa no início do século 20. Nas telinhas, a casa já foi cenário de várias novelas, como Tempo de Amar, Além do Tempo, Passione e Água na Boca.
O vinho de videiras antigas é melhor?
Dizem que os vinhos envelhecidos são os mais ricos e saborosos, mas será que isso vale também para as videiras? Apesar de ter um valor histórico e até emotivo nas treliças das videiras mais antigas, não necessariamente elas fazem vinhos melhores. Videiras mais antigas ganham troncos e raízes mais complexas para resistir ao tempo, mas precisam de mais cuidado por estarem propensas a pragas e doenças. Vinícolas mais comerciais tendem a substituir as suas videiras a cada algumas décadas para evitar os custos de manutenção.
São justamente as produções menores e mais familiares que valorizam as videiras plantadas pelos seus antecessores até o fim. Nem melhor, nem pior, as uvas produzidas por videiras ancestrais pelo mundo já provaram que continuam produzindo uvas belas e saborosas ao longo dos séculos. Os sucos e vinhos que saem de lá mantém seu gosto intenso e a sua raridade até valoriza mais a bebida. É comum que o tamanho das plantações reduza ao longo do tempo e a menor demanda é disputada assiduamente por amantes de vinho que desejam provar a bebida com sabor de história.
Quais são as videiras mais antigas do mundo?
As videiras da Strapazzon estão entre as mais antigas do Brasil, mas não chegam perto de alguns cultivos recordistas em idade. Como o cultivo da uva e a produção do vinho no Brasil veio muito com imigrantes europeus que já tinham a manha do negócio, é justamente no outro lado do oceano que estão as videiras mais longevas. A videira mais antiga do mundo que se tem em relatos não fica na Itália, na França e nem em Portugal e sim na Eslovênia!
No país vizinho da Itália, a cidade de Maribor preserva uma videira nos muros de uma casa carinhosamente chamada de “Velha Vinha”. Muitos relatos e pinturas antigas colocam a videira nos anos 1600, mas existem registros até mais antigos de meados dos anos 1500. A videira da variedade Žametovka sobreviveu a invasões e guerras ao longo de 500 anos e ainda hoje produz uvas o suficiente para cerca de raras 100 garrafas de vinho por ano. A Velha Vinha recebeu certificado de recorde do Guiness Book como a mais antiga do mundo ainda em produção e até Bento Gonçalves recebeu um ramo dela em 2018.
No continente americano, as videiras mais antigas ficam nos Estados Unidos, o país de origem das videiras da Strapazzon. Lá a produção mais antiga a se manter firme até hoje começou com as missões católicas espanholas na região da Califórnia. A Missão São Gabriel foi fundada em 1773 e, por causa dos rituais com vinhos, passou a produzir uvas em videiras híbridas da variedade espanhola Mission com a americana Vitis girdiana. A videira ganhou o nome de Ramona e está há aproximadamente 250 anos em produção. Assim como é comum nas videiras ancestrais, hoje o cultivo que resta tem o tamanho de uma árvore e a produção é pequena, de apenas um barril por ano.
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