
Em projeto de mestrado, brasileira investigou a viabilidade de cultivar diferentes espécies vegetais em Marte (Foto: Shutterstock)
Rebeca Gonçalves, uma brasileira apaixonada por astronomia desde a infância, combinou sua fascinação pelo espaço com sua formação em biologia ao se tornar astrobióloga.
Em seu projeto de mestrado na Universidade de Wageningen, nos Países Baixos, ela investigou a viabilidade de cultivar diferentes espécies vegetais em conjunto como uma estratégia para otimizar recursos e garantir a segurança alimentar em futuras colônias humanas em Marte.
De acordo com o site BBC News Brasil, o objetivo principal da pesquisa era entender como os recursos limitados, como água, nutrientes e energia, poderiam ser utilizados de forma eficiente para o cultivo de alimentos em Marte.
Sob a orientação do ecologista e exobiólogo Wieger Wamelink, um dos pioneiros no estudo da agricultura espacial, ela explorou novas fronteiras científicas, contribuindo para um campo de pesquisa crescente.
Caminhos para estabelecer agricultura sustentável em Marte
A pesquisa não apenas abre caminho para a possibilidade de criar uma agricultura sustentável em Marte, mas também destaca a importância de integrar diferentes áreas do conhecimento, como astronomia e biologia, para enfrentar os desafios interdisciplinares do futuro.
Esse trabalho representa um passo significativo na busca por soluções inovadoras e sustentáveis para a exploração espacial, ao mesmo tempo em que oferece insights valiosos para desafios ambientais aqui na Terra.
Plantações em Marte desenvolvidas com técnicas maias
Rebeca Gonçalves se deparou com o desafio de adaptar as técnicas agrícolas terrestres a um ambiente completamente distinto. A partir daí, ela recorreu à prática milenar da policultura, também conhecida como consorciação, desenvolvida pelos maias.
Os maias cultivavam abóbora, feijão e milho juntos, aproveitando as qualidades complementares de cada planta para aumentar a produtividade.
Ao aplicar essa abordagem à agricultura marciana, ela selecionou cuidadosamente as plantas ideais: cenoura, ervilha e tomate-cereja.
-
As ervilhas, por exemplo, possuem uma simbiose com bactérias que transformam nitrogênio em amônia, agindo como fertilizantes naturais;
-
O tomate-cereja, por sua vez, serve de suporte para as ervilhas e proporciona sombra para as cenouras se desenvolverem;
- A cenoura, com suas pequenas raízes, ajuda a arejar o solo, completando o ciclo de benefícios mútuos entre as plantas.
Essa pesquisa pioneira, além de explorar novas fronteiras na agricultura espacial, também resgata práticas ancestrais para enfrentar os desafios da exploração interplanetária.
Ao adaptar técnicas do passado ao futuro da colonização espacial, a brasileira oferece uma visão promissora para a agricultura em Marte e, potencialmente, para a recuperação de solos degradados na Terra.
Como o experimento foi conduzido para similar o solo em Marte
Rebeca conduziu o experimento utilizando solo similar ao regolito marciano fornecido pela NASA. Com uma composição quase idêntica ao solo marciano, que precisa de nutrientes e matéria orgânica, ela testou a técnica de consorciação com cenouras, ervilhas e tomates.
Os resultados, publicados na revista acadêmica Plos One, revelaram que os tomateiros cultivados em consorciação no solo marciano dobraram a produção de frutos em comparação com plantas crescendo isoladamente, mostrando um desenvolvimento mais robusto e rápido.
Embora as ervilhas tenham apresentado resultados similares independentemente de estarem em consorciação ou não, as cenouras preferiram o cultivo em monocultura. Esses resultados promissores oferecem uma base sólida para pesquisas futuras na adaptação de técnicas agrícolas para a colonização de Marte.
Alimentos desidratados darão lugar a cultivo de vegetais
Para as futuras colônias de seres humanos que forem para Marte, cultivar diversos alimentos em conjunto pode trazer vantagens, como a otimização de recursos e as barreiras logísticas que dificultam um envio de remessas de comida a partir da Terra.
Até o momento, os astronautas sobrevivem com comidas desidratadas, que são mais leves por não carregarem água, além de serem compactas e fáceis de transportar.
"Esse processo de desidratação elimina todos os antioxidantes dos alimentos, como as vitaminas A e C, o betacaroteno e o licopeno, que são essenciais para a saúde humana. Isso significa que, se quisermos colonizar a Lua ou Marte, seremos obrigados a plantar alimentos frescos, pois há certos nutrientes que só existem nessas fontes", explica a astrobióloga.
Para a cientista, a primeira geração de cultivo precisará contar com suprimentos externos, como nutrientes e fertilizantes vindos da Terra.
"A partir da segunda geração, conseguiremos fazer um sistema autossustentável, em que usamos as partes não comestíveis das plantas, além de fezes e urina humana, para fazer adubo", prevê.
Veja mais!
Elas crescem em jardins e florestas, são pisoteadas por quem não as conhece e, ainda assim, valem uma fortuna
Tudo que você precisa saber para plantar alface em casa e ter sempre folhas frescas nas refeições